Memorial
- Bia Santos
- 26 de jan. de 2016
- 2 min de leitura
UMA FOLHA AMASSADA com algumas palavras. Uma rosa branca meio amassada, mas ainda com seu aroma. Um colar com duas iniciais dentro de um coração. Uma caneta com o símbolo do infinito na tampa. Talvez você não se lembre destas coisas. Guardadas em uma velha caixa de All Star, embaixo de minha escrivaninha. Tem coisas que não posso ver e nem tocar, então não tive como guardar na caixa. Guardei em um lugar seguro. Onde cupins e baratas não conseguem estragar, e meu irmão não consiga encontrar. Meu coração. Todas essas coisas, guardadas na caixa, talvez não tenha nenhum significado para você agora, mas para mim tem. Lembro-me de cada detalhe. A folha amassada com algumas palavras, você me entregou no meio da aula de matemática, com a professora francesa Mariehei explicando conteúdo novo. Quase não prestei atenção na explicação, então tive que pedir ajuda para Lena. Prestei atenção nas palavras que estavam escritas na folha: “Jantar, sábado à noite, às 19h30min?” Sorri para você como se disse se sim. A rosa branca, durante a sobremesa você colocou-a sobre a mesa sorrindo, seu aroma se confundiu com seu perfume, e seu sorriso fez meu coração pulsar. Um colar com duas iniciais dentro de um coração, no nosso primeiro beijo, em baixo de uma laranjeira no quintal da casa de sua avó. Seu sorriso fez-me roubar mais um beijo seu. Suas mãos tocavam minha cintura e meu pescoço. Você foi tão carinhoso e gentil comigo. Uma caneta com o símbolo do infinito na tampa, eu escrevia um poema para a aula de literatura, você chegou com o enfeite de caneta. Você disse que simbolizava nossa relação, seria infinita, para sempre. Não sei por que ainda guardo esta caixa. Não consigo entender o que houve com você. Você disse que seria para sempre, eu sei que o felizes para sempre só acontece em conto de fadas, mas você me prometeu. Talvez algum dia você entenda o que aconteceu comigo, com você, com nós. Sim, mudamos. Você foi para um caminho, e eu para outro. Você deu ouvidos aos outros, e eu ouvi meu coração. Você disse coisas horríveis a mim, e eu disse a você para seguir seus sonhos e confiar em si mesmo. Talvez, daqui uns 20 anos, nos encontramos numa cafeteria, sentaríamos na mesma mesa e tomaríamos um capuchino. Você me diria que casou com a garota da loja de perfumes, tem uma filha linda que estuda espanhol e está trabalhando na empresa de seu pai. Perguntaria sobre mim e eu diria com um sorriso que estou feliz. Um adeus na porta da cafeteria, como se fosse um até logo.

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